"Observações masculinas sobre as mulheres, os homens, os dois juntos, os dois separados...
Sim, homem é frouxo, só usa vírgula, no máximo um ponto-e-vírgula, jamais um ponto final.
Sim, o amor acaba, como sentenciou a mais bela das crônicas do mineiro Paulo Mendes Campos.
Acaba, mas só as mulheres têm a coragem de pingar o ponto final da caneta-tinteiro do amor.
E pronto. Às vezes com três exclamações, como nas manchetes sangrentas. Sem reticências. Mesmo em algumas ocasiões, contra a vontade, sofrendo horrores.
Sábias, elas sabem que não faz sentido a prorrogação, os pênaltis, deixar o destino decidir a morte-súbita. Antes só, com uma dor elegante no peito a se ver nas vitrines, do que com um homem-de-nada, homem-isopor que vai com o vento.
O homem até cria motivos para que a mulher diga basta, chega, é o fim! Covardia revista e ampliada. O macho pode até sair para comprar cigarro e nunca mais voltar. E sair por aí dando baforadas aflitas no king-size do abandono, no Continental sem filtro da covardia e do desamor. Mulher se acaba, mas diz na lata, sem metáforas. Quando chega a hora, chega. Chega meeesssssssmooooooo!!!
Melhor para os dois lados é que haja o maior barraco. Um quebra-pau miserável, celular contra a parede, controle remoto no teto, óculos na maré, acusações mútuas, o diabo-a-quatro.
O amor, se é amor, não se acaba de forma civilizada. Ok, tudo bem, tudo certo, foi ótimo, valeu, até a próxima! Nãoooo. Se é pouco amor, não é amor, meu caro Nelson Rodrigues. Nem em Itapecerica da Serra nem na Suécia. Se ama de verdade nem o mais frio dos esquimós consegue escrever o the end sem uma quebradeira monstruosa. Fim de amor sem baixaria é atestado, com firma reconhecida e carimbo de cartório, de que o amor ali não mais estava. Ou o fogo já era brando, quase fogo morto, ou o amor ainda ali estava, era momento, aí sim, de vígula e não ponto final.
O mais frio, o mais cool dos ingleses estrebucha e fura o disco do Morrissey ou The Smiths, I am human, sim, demasiadamente humano esse barraco sem fim.
O que não pode é sair por aí assobiando, camisa aberta, relax, chutando as tampinhas da indiferença para dentro dos bueiros do tempo. O fim do amor exige um luto, não pode simplesmente pular o muro do reino da Carençolândia para exilar-se, com mala e cuia, com o primeiro traste que aparece pela frente. A Carençolândia é a pátria imaginária, um golfo da existência, aliás, para onde caminham os hipercarentes que não respeitam o luto amoroso. Aqueles que saem de uma casa para outra, mesmo que os batimentos cardíacos nada lhes digam. E o pior, saem covardemente, fugindo do pedagógico e esclarecedor barraco do fim.
Ora, sejam homens! Sigam o exemplo das mulheres!"
(autor Xico Sá, coluna revista UMA e autor de Catecismo de devoções, intimidades & pornografias)
quarta-feira, 13 de setembro de 2006
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